A frota de ônibus urbanos no Brasil tem a idade média mais elevada desde o início da série histórica produzida há 27 anos pela NTU (Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos). Segundo a entidade, os coletivos têm, em média, mais de seis anos. Perda de passageiros e dificuldades no financiamento do setor, agravados durante a pandemia de Covid-19, estão entre as causas apontadas pelos empresários para renovar os veículos.
Os dados fazem parte do anuário 2021-2022, divulgado nesta terça-feira (9), em São Paulo. Eles levam em consideração os nove grandes sistemas (Belo Horizonte, Curitiba, Fortaleza, Goiânia, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro, Salvador e São Paulo), responsáveis por mais de 35% da frota nacional e representativos do cenário brasileiro, segundo os especialistas.
A série Capitais no Radar, que apresentou o Índice Folha de Mobilidade Urbana, mostrou em junho que ônibus velhos afetam o dia a dia das pessoas em diversas cidades brasileiras. Em São Luís (MA), por exemplo, alternativos tomaram conta da demanda diante do caos no sistema municipal. Já em Aracaju (SE) chamou a atenção o sucateamento da frota e o aperto ao qual são submetidos os passageiros, estimulando a busca pelo transporte individual, para quem pode.
“O que se tem é o serviço de transporte público, insumos e operação, adequando-se ao nível de receita obtida por meio de tarifas públicas, que é menor ano após ano”, diz a análise contida no anuário. “Romper com o modelo de financiamento em vigor e adotar uma alternativa com maior participação de orçamentos públicos e também de subsídios que busquem recursos de outros setores é fundamental para reverter esse quadro de envelhecimento da frota”, sugere a publicação.
De forma geral, a NTU já trabalha com a possibilidade de um encolhimento estrutural do setor, ou seja, para sempre. Os representantes das empresas estimam que dificilmente a perda de passageiros ocorrida durante a pandemia será plenamente revertida nos próximos anos.
A percepção dos empresários, a partir dos dados do anuário, é de uma estabilização da demanda, que deve permanecer em cerca de 70% do total de usuários transportados no pré-pandemia, em 2019.
Em 2019, eram realizadas 33,2 milhões de viagens por passageiros pagantes ao dia no país. Caiu para 22,4 milhões em 2021.
Menos passageiros e a consequente queda na arrecadação são apontados pelas empresas como alguns motivos para tantos problemas financeiros. Segundo a NTU, as dificuldades de caixa foram responsáveis por 397 paralisações temporárias desde março de 2020, afetando 108 sistemas de transporte público do país. Praticamente uma greve ou protesto a cada dois dias, durante o período de pandemia.
Na série Capitais no Radar, a reportagem contou histórias de passageiros que chegam a organizar a distribuição de cestas básicas para motoristas e cobradores que tentam sobreviver por meses com salários atrasados.
A NTU aponta que os sistemas organizados de transporte público por ônibus urbano, que abrangem 2.703 municípios, tiveram uma perda acumulada de R$ 27,8 bilhões do início da pandemia até abril deste ano.
Diante da crise do setor, 49 empresas e seis consórcios suspenderam as atividades ou deixaram de operar. Outras 13 empresas e três consórcios entraram com pedido de recuperação judicial.
Em meio à quebradeira do setor, foram registradas pela NTU iniciativas de aporte de recursos em 125 sistemas que atendem a 243 municípios.
FOLHAPRESS