A partir do diálogo com representações do setor audiovisual, dados de mercado, dentre outras iniciativas, dois Grupos de Trabalho (GT) atuam em ações para a viabilidade de efetivação da Ceará Filmes desde abril deste ano
Criado pela Lei n.º 17.857/ 2021, o Programa Ceará Filmes objetiva a promoção de políticas públicas em prol do setor audiovisual do estado. Representa investir no desenvolvimento da produção cearense com a arte e a cultura digital, promovendo a criação, formação, exibição, distribuição, preservação, pesquisa e intercâmbio.
Em 22 de março deste ano, durante cerimônia em homenagem ao produtor Luiz Carlos Barreto, o Governo do Ceará anunciou a criação de um Grupo de Trabalho (GT) para debater e planejar estratégias sobre a implantação da Ceará Filmes, com modelo de gestão ainda a ser desenhado, seja como uma empresa pública ou como uma agência de desenvolvimento do audiovisual cearense.
A partir dessa demanda, a Secretaria da Cultura do Ceará (Secult Ceará), por meio da Coordenadoria de Cinema e Audiovisual (CCAVI), compôs dois GTs. Desde abril, pasta, representantes da Rede Pública de Equipamentos Culturais do Ceará (Rece) e setor audiovisual realizam uma série de reuniões sistemáticas.
Um grupo é responsável por pensar a consultoria para a implantação da Ceará Filmes. Já o outro GT busca desenvolver metodologias para organizar um seminário e também elaborar uma ampla pesquisa acerca do impacto socioeconômico do setor audiovisual do estado.
Em junho, o passo inicial no levantamento de informações sobre a área foi efetivado. Como integrante do GT de Pesquisa, o Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará (Ipece) desenhou e elaborou a base inicial da futura pesquisa sobre o mercado audiovisual do estado.
Primeiro mapeamento
Por meio do diálogo com a Secult Ceará e o campo audiovisual dentro do GT, o Ipece realizou o estudo “Desempenho do Setor Audiovisual Cearense – 2010 a 2022”. O objetivo é compreender a estrutura e evolução das atividades econômicas que formam a área.
A ferramenta é a primeira etapa de uma pesquisa futura de maior envergadura. Um processo que visa aprofundar mais acerca deste cenário, pois o trabalho do Ipece considera somente os vínculos formais.
Ou seja, detecta apenas trabalhadores com carteira assinada em um setor que também é formado por inúmeros profissionais autônomos, Microempreendedores Individuais (MEI), Microempresa (ME), contrato via Recibo de Pagamento Autônomo (RPA), dentre outros processos.
Como se trata do recorte inicial acerca desse setor, o estudo do Ipece será sucedido de outras análises e levantamentos. “É a etapa inicial de uma ampla pesquisa a ser desenvolvida para consolidar dados, informações e indicadores seguros sobre o impacto socioeconômico do audiovisual cearense”, detalha a coordenadora de Cinema e Audiovisual da Secult Ceará, Camila Vieira.
Planejar a Ceará Filmes
Ao contemplar a série histórica compreendida entre 2010 e 2022, o estudo “Desempenho do Setor Audiovisual Cearense” espelha as transformações tecnológicas e mercadológicas que impactaram o cenário nacional. Como, por exemplo, o estabelecimento das plataformas de streaming e o contexto recente da pandemia.
“Estes dados revelam para onde o setor audiovisual está caminhando e ganhando destaque dentro do Ceará”, descreve o Ipece. Segundo o levantamento, três atividades econômicas apresentaram forte crescimento em relação a 2010, com geração de novos postos de trabalho formais (com carteira assinada).
As ocupações que mais cresceram, de acordo com estudo, foram “Produção cinematográfica, de vídeos e de programas de televisão” (com incremento de 288,3%), “Atividades de exibição cinematográfica” (com 35,2%) e “Operadoras de televisão por assinatura por cabo” (5,58%).
O Ipece aponta que o setor audiovisual nacional contava com 64.200 vínculos formais em 2010. Esse número chegou a 37.618 vínculos em 2022, significando queda de 41,40% na comparação desses anos. No Ceará, o percentual neste mesmo período foi de 19,85%.
Como resultado da dinâmica anual, a participação dos vínculos formais do setor audiovisual cearense no total de vínculos formais do estado foi de 0,11% (2010) para 0,07%, em 2022. Já a participação do setor audiovisual nacional no total de vínculos formais do País caiu de 0,15% (2010) para 0,07%, em 2022.
“A participação do audiovisual cearense no setor nacional aumentou de 2,28%, em 2010, para 3,12%, em 2022, mostrando que, apesar da perda de participação dentro do estado, ocorreu um ganho de importância dentro do contexto nacional”, defende o Ipece.
Sequência do trabalho
A coordenadora Camila Vieira assinala que o estudo é o primeiro momento de sistematização para entender, por meio de uma série histórica, quais áreas são prioritárias e, a partir daí, o poder público conseguir tomar decisões em relação à distribuição de recursos para estimular a cadeia produtiva do audiovisual cearense.
Com base nesta etapa inicial de estudo, uma pesquisa mais aprofundada será efetivada a partir da contratação de uma empresa especializada na elaboração de estudos, pesquisas, mapeamentos e/ou relatórios detalhados sobre setores econômicos e estratégicos como o setor audiovisual.
“A partir do resultado desse primeiro momento, teremos a base para organizarmos uma pesquisa mais ampla do setor audiovisual. Fazer uma reflexão metodológica maior. Trazer dados comparativos com outras indústrias. Entender de que forma o setor audiovisual impacta no PIB da cultura”, contextualiza a coordenadora de Cinema e Audiovisual da Secult Ceará, Camila Vieira.